domingo, 25 de setembro de 2011

O Coronel e o Lobisomem, de José Cândido de Carvalho

Que Rachel de Queiroz me perdoe, mas vou fazer aqui uma espécia de prefácio II da obra de Carvalho.
À esse grande escritor que, até o presente momento, eu não conhecia, deixo aqui meus sinceros agradecimentos por ter criado um romance tão esplêndido, tão envolvente e tão singular. Digo tudo isso não só pela linguagem, pelo estilo de prosador, de contador de histórias e "causos" que gente da zona rural gosta tanto de contar (e a gente ama ouvir), mas também pela composição da narrativa, pela estrutura do enredo e pela inigualável comoção que leva o leitor a experimentar.
Sinceramente, acho que se fosse homem, gostaria de ser como o cel. Ponciano de Azeredo Furtado. Sim, porque não é só valentia, autoritarismo de que ele é feito; o coronel é, acima de tudo, um homem simples, de coração farto, solidário e merecedor de todos os títulos e honrarias que recebeu.
Mesmo que grosseiro e rude, às vezes, revelou a essência e a pureza que carecem em muito ser humano que a gente vê por aí.
Devo acrescentar que se faltava coragem naquele Ponciano, disposição e espírito guerreiro teve de sobra. E por isso, a meu ver, ele mereceu sim todos os reconhecimentos e reverências que fizeram à ele.
"[...] - Lá vai o Corornel Ponciano de Azeredo Furtado em sua mulinha de desencantar lobisomem. Vai para a guerra (...) que o coronel não tem medo de nada", p. 303.
Vai Coronel, segue adiante puxando a comitiva na caça contra a onça pintada e o lobisomem, que eu vou atrás, te seguindo sempre. Quem sabe assim eu aprendo um pouco sobre a vida, e descubro como é que se faz para vencer tantas batalhas....

quinta-feira, 22 de setembro de 2011

De Mário Quintana

POEMINHA DO CONTRA
Todos estes que aí estão
Atravancando o meu caminho,
Eles passarão.
Eu passarinho!

                                                             tela de Vincent Van Gogh

segunda-feira, 12 de setembro de 2011

Poema - Por Renato Dering

Faço mal?

Eu faço mal em te querer por segundos
ainda sabendo que eles irão embora
e tudo não passará de lembranças
que me farão viver por mais algum tempo
e lembrar que se hoje vivo, é por você?

domingo, 11 de setembro de 2011

Aos meus leitores

Aos leitores e seguidores deste blog, posto algumas telas do esplêndido pintor Vincent Van Gogh.
Reparem que sua obra representa o que os críticos consideram o "fracasso" de toda a sua vida. Se enquanto pintor teve sua carreira valorizada, enquanto homem não obteve o mesmo sucesso.
Em vida, Van Gogh não conseguiu se manter financeiramente, não constituiu uma família  e nem soube manter relações sociais. Aos 37 anos, no auge de uma doença mental, suicidou-se.
Bem, sendo assim, essa semana será postado várias de suas telas. Algumas famosas e muito conhecidas, outras nem tanto. Mas só para que fique bem claro que louco ou não, ele foi incrível. E aqui vai minha homenagem e meus sinceros agradecimentos pelas curvas, pelas formas, pelas cores, pela ousadia.

Fotos de Florbela Espanca

O olhar da escritora pode ser percebido em seus poemas...

sábado, 10 de setembro de 2011

O fazer literário

No processo de criação do texto ficcional, seria possível, para o escritor, desvencilhar-se da bagagem de leituras que o constitui para desenvolver sua própria produtividade literária?
O que é válido então? O diálogo com outros discursos ou a originalidade da obra?
Mas o caráter particularizador de uma obra não seria justamente a exata reformulação de outras idéias, anteriormente preconizadas?
Já dizia Leula Perrone-Moisés (1978, p. 71): "Está claro que nenhuma ciência pretende prestar contas integralmente de seu objeto, e que o avanço científico só ocorre a partir da modéstia fundamental do "cada vez mais", da constante reformulação".
Acho que, de alguma maneira, o grande valor que reside na literatura é a capacidade da não-conclusão, do inacabamento. E, novamente nas palavras de Perrone, "[...] o poeta é aquele que, por seu sacrifício, mantém em sua obra a pergunta aberta", p. 75.


Por Thaís Silva

quarta-feira, 7 de setembro de 2011

O que é que Florbela Espanca tem?

Dentre os traços mais marcantes que singularizam a poetisa Florbela Espanca, estão, sem dúvida alguma, a irreverência e a ousadia; aspectos que acompanharam sua breve trajetória de vida e fizeram de sua obra um marco consagrado na história da literatura portuguesa.

De acordo com Maria Lúcia Dal Farra (1996), Florbela fornecia a imagem de “[...] mulher escritora, rebelde e irreverente, avessa à publicidade, à glória, aos críticos e jornalistas, sem editor e sem dinheiro para dar a lume seus livros; orgulhosíssima, a ponto de jamais mendigar favores, o que “tem sido a minha suprema defesa”, “o meu amparo e a minha força”, p. XVIII.

O que teria acontecido na vida de uma mulher tão corajosa para desistir de viver? Aonde foi parar, afinal, tanta ousadia, tanta força? Teria sido as decepções amorosas, ou o cansaço por ter lutado tanto por seus sonhos e, no final, sentir-se tão só, tão desamparada? Teria se sentido feliz se soubesse que após sua partida, obteve do público leitor, da crítica e de toda uma sociedade, um respeito e adoração jamais previstos?

“Vive só e retirada, não porque seja incompreendida, mas porque é alguém “que não compreende nada”, deixando-se rodear tão só pelos livros, flores e cão, uma vez que por vontade própria se acha enclausurada na “cela de Sóror Saudade”, p.XIX.

Será preciso que a sensação de compreensão nos rodeie sempre, para que possamos nos sentir significantes no mundo? Será que é preciso compreender tudo, sempre?
Talvez, Florbela gostasse de conhecer Clarice Lispector, e se sentisse bem ao ouvir da brasileira: “Não se perde por não entender. Viver ultrapassa qualquer  entendimento”.

domingo, 4 de setembro de 2011

Virgínia Woolf

Virgínia Woolf foi uma grande escritora londrina. Precursora de obras notáveis, dotadas de grandes representações femininas, como Mrs. Daloway e Orlando, por exemplo, a autora também foi integrante da sociedade literária londrina, no período entre guerras.
Em 1929, com o livro-ensaio "Um teto todo seu", Virgínia abalou a crítica literária e a própria sociedade, de certa forma, ao considerar que as mulheres só poderiam alcançar seus desejos de se tornarem escritoras e organizar seus pensamentos e idéias no papel, através da autonomia e da independência financeira, ou em outras palavras, através de um quarto próprio e de renda própria.  "Uma mulher deve ter dinheiro e um quarto próprio se ela quiser escrever ficção".
Entre outras características, sua obra é considerada modernista, justamente por lidar com o fluxo de consicência, com a intercalação entre o passado, o presente e o futuro, e por delinear personagens enigmáticas, misteriosas e intrigantes, a apartir de figuras típicas do cotidiano.
Em 1941, após sofrer um colapso nervoso, Virgínia se suicida, deixando um bilhete para seu marido, Leonardo Woolf. A escritora decidiu acabar com sua vida afogando-se. Ela vestiu um casaco, encheu-o de pedras e se atirou no rio Ouse. SE corpo só foi encontrado no mês seguinte.
Eis o bilhete deixado ao marido:

"Querido,Tenho certeza de estar ficando louca novamente. Sinto que não conseguiremos passar por novos tempos difíceis. E não quero revivê-los. Começo a escutar vozes e não consigo me concentrar. Portanto, estou fazendo o que me parece ser o melhor a se fazer. Você me deu muitas possibilidades de ser feliz. Você esteve presente como nenhum outro. Não creio que duas pessoas possam ser felizes convivendo com esta doença terrível. Não posso mais lutar. Sei que estarei tirando um peso de suas costas, pois, sem mim, você poderá trabalhar. E você vai, eu sei. Você vê, não consigo sequer escrever. Nem ler. Enfim, o que quero dizer é que é a você que eu devo toda minha felicidade. Você foi bom para mim, como ninguém poderia ter sido. Eu queria dizer isto - todos sabem. Se alguém pudesse me salvar, este alguém seria você. Tudo se foi para mim mas o que ficará é a certeza da sua bondade, sem igual. Não posso atrapalhar sua vida. Não mais. Não acredito que duas pessoas poderiam ter sido tão felizes quanto nós fomos.
                                                                                  V."

Eis a foto de Virgínia Woolf

Ficheiro:Virginia Woolf by George Charles Beresford (1902).jpg

sexta-feira, 2 de setembro de 2011

Florbela Espanca

Poemas de Florbela Espanca
                                    Livro de Mágoas


Eu...

Eu sou a que no mundo anda perdida,
Eu sou a que na vida não tem norte,
Sou a irmã do Sonho, e desta sorte
Sou a crucificada... a dolorida...

Sombra de névoa tênue e esvaecida,
E que o destino amargo, triste e forte,
Impele brutalmente para a morte!
Alma de luto sempre incompreendida!...

Sou aquela que passa e ninguém vê...
Sou a que chamam triste sem o ser...
Sou a que chora sem saber por quê...

Sou talvez a visão que Alguém sonhou,
Alguém que veio ao mundo pra me ver,
E que nunca na vida me encontrou!


"Feira", de Tarsila do Amaral


Por Thaís Silva

DAS ARTES

Se as telas parecem incompreensíveis,
Não há motivo para não querê-las.
Que triste seria a arte
Se não existisse o modernismo brasileiro!


Minha homenagem a Tarsila do Amaral

Abaporu.