segunda-feira, 10 de dezembro de 2012



Em tempos de literatura dita ‘contemporânea’, em que os livros publicados visam um público mais exigente, principalmente com relação ao tempo da leitura, confesso que tenho sentido uma profunda falta de críticos literários. De boa crítica literária, sobretudo.
E minha necessidade de leitura de boas análises sobre os romances é tão grande, que às vezes, penso ou estar totalmente por fora da realidade literária atual, ou realmente não se faz mais crítica como antigamente. Abro um parênteses, entretanto, para dizer que as colunas dominicais de Ferreira Gullar, publicadas na Folha de S. Paulo, têm sido meus guias de sobrevivência nesses tempos de escassez crítica.
Diante disso, volta e meia me pego lendo textos de pessoas mortas (infelizmente), que deixaram um legado extraordinário para o crescimento e o amadurecimento das letras no Brasil. É o caso, por exemplo, da crítica literária feita por Lúcia Miguel Pereira, que não somente nos abre os olhos para uma série de questões importantes sobre o romance brasileiro, como ainda nos fornece dicas preciosas de leituras.
Não preciso nem dizer que compartilho, profundamente, com as ideias postuladas por essa mulher, e ainda mais porque foi ela uma das poucas vozes femininas de seu tempo, que apareceram em jornais, livros e revistas, com textos críticos cujo conteúdo em nada se distanciava dos grandes comentaristas de literatura da época (me refiro  à década de 30 em diante, até meados dos anos 60 e 70 no Brasil).
Assim, eis Lúcia Miguel Pereira:
 “[...] escrever é coisa séria, não pode não deve ser atividade secundária”.
“[...] deveríamos preferir , se tivéssemos que escolher, a qualidade a quantidade – seria melhor que poucas pessoas fossem bem instruídas, do que todas o fossem mais ou menos”.
Em tempos em que o que vale mais é a grande vendagem de livros do que o amadurecimento de produções literárias, ou ainda, o lançamento de obras com profundo afinco estético e ideológico, Lúcia Pereira afirma que cada vez mais há menos escritores, há menos pessoas interessadas em se dedicar, exclusivamente, a literatura. “[...] enquanto não constituir uma profissão, a literatura não se revestirá de toda a sua dignidade, participará de muitas das fraquezas do amadorismo, muita gente continuará a pensar que é apenas uma prenda ou um divertimento”.
Embora os comentários de Lúcia Miguel Prereia tenham sido publicados na década de 40, no jornal O Estado de S. Paulo, me parece que tais postulações se adéquam perfeitamente ao cenário literário atual.
Assim, a crítica conclui dizendo que há um grande descompasso na relação entre a criação artística e o comércio de livros. “E, na verdade, o acordo entre as duas fases tão diferentes da vida de um romance [...] é dos mais melindrosos [...]”, pp. 192-193.


PEREIRA, Lúcia Miguel. Escritos da maturidade. – Rio de Janeiro: Graphia Editorial, 1994.

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