Em tempos de
literatura dita ‘contemporânea’, em que os livros publicados visam um público
mais exigente, principalmente com relação ao tempo da leitura, confesso que
tenho sentido uma profunda falta de críticos literários. De boa crítica
literária, sobretudo.
E minha necessidade
de leitura de boas análises sobre os romances é tão grande, que às vezes, penso
ou estar totalmente por fora da realidade literária atual, ou realmente não se
faz mais crítica como antigamente. Abro um parênteses, entretanto, para dizer
que as colunas dominicais de Ferreira Gullar, publicadas na Folha de S. Paulo,
têm sido meus guias de sobrevivência nesses tempos de escassez crítica.
Diante disso, volta
e meia me pego lendo textos de pessoas mortas (infelizmente), que deixaram um legado
extraordinário para o crescimento e o amadurecimento das letras no Brasil. É o
caso, por exemplo, da crítica literária feita por Lúcia Miguel Pereira, que não
somente nos abre os olhos para uma série de questões importantes sobre o
romance brasileiro, como ainda nos fornece dicas preciosas de leituras.
Não preciso nem
dizer que compartilho, profundamente, com as ideias postuladas por essa mulher,
e ainda mais porque foi ela uma das poucas vozes femininas de seu tempo, que
apareceram em jornais, livros e revistas, com textos críticos cujo conteúdo em
nada se distanciava dos grandes comentaristas de literatura da época (me
refiro à década de 30 em diante, até
meados dos anos 60 e 70 no Brasil).
Assim, eis Lúcia
Miguel Pereira:
“[...] escrever é coisa séria, não pode não
deve ser atividade secundária”.
“[...] deveríamos
preferir , se tivéssemos que escolher, a qualidade a quantidade – seria melhor
que poucas pessoas fossem bem instruídas, do que todas o fossem mais ou menos”.
Em tempos em que o
que vale mais é a grande vendagem de livros do que o amadurecimento de
produções literárias, ou ainda, o lançamento de obras com profundo afinco
estético e ideológico, Lúcia Pereira afirma que cada vez mais há menos
escritores, há menos pessoas interessadas em se dedicar, exclusivamente, a
literatura. “[...] enquanto não constituir uma profissão, a literatura não se
revestirá de toda a sua dignidade, participará de muitas das fraquezas do
amadorismo, muita gente continuará a pensar que é apenas uma prenda ou um divertimento”.
Embora os
comentários de Lúcia Miguel Prereia tenham sido publicados na década de 40, no
jornal O Estado de S. Paulo, me parece que tais postulações se adéquam
perfeitamente ao cenário literário atual.
Assim, a crítica
conclui dizendo que há um grande descompasso na relação entre a criação
artística e o comércio de livros. “E, na verdade, o acordo entre as duas fases
tão diferentes da vida de um romance [...] é dos mais melindrosos [...]”, pp.
192-193.
PEREIRA, Lúcia
Miguel. Escritos da maturidade. –
Rio de Janeiro: Graphia Editorial, 1994.
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