No artigo intitulado "Passou a hora das coisas bonitas", o crítico literário Alceu Amoroso Lima (com pseudônimo de Tristão Athayde), chamava a atenção para a necessidade de se fazer uma literatura mais engajada com os acontecimentos sociais. No período de publicação de seu texto, o Brasil vivia o turbilhão de revoltas, críticas e apoio à Revolução de 30 (também conhecida como fim da República Velha, fim da era café-com-leite).
Para aqueles que consideram a literatura a arte da distração, do lazer, Alceu Amoroso talvez fosse incompreendido. A meu ver, seu mérito não deve ser descartado, uma vez que sua proposta de aliar o texto literário à transfiguração da ideologia social me parece muito válida. Aliás, acho que a qualidade da boa prosa romanesca está muito envolvida com essa proposta de Amoroso, isto é, está relacionada com a capacidade que o autor tem de conseguir transpôr para sua produção literária, a ideologia do seu contexto social. Literatura é isso.
Se os escritores fossem apenas produzir textos para conduzir seus leitores a outros espaços, a outras realidades, a literatura não estaria condenada a um reducionismo limitado, pobre e despropositado? É claro que nos tranportar para outras situações e realidades diferentes da nossa são características das belas letras, mas não nos esqueçamos de que literatura não é só isso; não é apenas isso.
A boa literatura é aquela que, assim como considerou Alceu Amoroso, é capaz de aliar tanto o projeto estético quanto o ideológico, ou seja, há que se ter um trabalho cuidadoso com a linguagem, mas há que se considerar os acontecimentos a nossa volta. Porque escrever um texto, significa (entre outras coisas) expressar nossas próprias idéias, nosso modo de pensar diante do mundo e, sendo assim, nossa opinião expressada através da linguagem tem o poder de influenciar outras mentes, seja ao nosso favor, seja contra nós mesmos. Porque, afinal de contas, se a literatura não pode mudar o mundo, ela pode, com absoluta certeza, tornar os sujeitos conscientes. É através da literatura que eu me conscientizo do que sou, do papel que exerço no meio; que questiono outras formas de pensar, que crio e construo meus próprios argumentos com relação ao mundo.
"Passou a hora das coisas bonitas", e já é tempo de mais posicionamentos, de engajamentos, de atitudes. Assim como o fez a 2ª fase do Modernismo brasileiro, é tempo de falarmos das coisas, do mundo e das pessoas, não mais de uma forma só bonita, floreada; mas falar de maneira mais real, mais concreta. Porque assim, a literatura poderá aproximar seus leitores de si mesma, e convidá-los a se reconhecer no seu trabalho estético e ideológico com a linguagem.
Por Thaís Silva
Thaís,
ResponderExcluirgostei muito.Acho muito pertinente e bem construída sua ideia. Não tenho muito a discordar, afinal nossos posicionamentos se convergem. A literatura é, de alguma forma, social.
Bjos
Thaís, me passa esse artigo depois?! Vou levá-lo para ler nas férias! =D
ResponderExcluirRenato, esse texto está presente no meu livro: "1930: a crítica e o modernismo", de João Luiz Lafetá. Vc consegue esse livro no google books, mas te emprestou pra xerocar só o artigo do Alceu Amoroso Lima, caso queira. =)
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