segunda-feira, 24 de outubro de 2011

ainda Tarsilando...

A filha de Tarsila do Amaral, Dulce, faleceu em 1966, vítima de uma crise de diabetes.
Nesses tempos difíceis, Tarsila declara, em entrevista, sua aproximação ao espiritismo. Conhece Chico Xavier, com quem passa a se corresponder.
Tarsila falece em 17 de janeiro de 1973 no Hospital da Beneficiência Portuguesa, em SP. Dizem que a causa de sua morte foi a depressão (talvez pela morte de sua única filha). E assim, a artista símbolo do movimento modernista brasileiro, foi enterrada no Cemitério da Consolação, usando um vestido branco, conforme seu desejo.

domingo, 23 de outubro de 2011

Os amores de Tarsila do Amaral

Todo mundo sabe quem foi Tarsila do Amaral. Um mulher linda, que produziu obras artísticas mais lindas ainda. O que nem todo mundo sabe, é que a artista teve 4 relacionamentos amorosos em sua vida; alguns, resultaram em casamento, outros não. Tarsila foi ousada na escolha dos amigos, no estilo artístico, na ânsia de viver e conhecer o mundo e, por conseguinte, na escolha das pessoas certas para se relacionar. No começo, não foi bem assim, mas depois, sua vida foi tomando os rumos que ela queria.
O 1º casamento foi em 1918, por imposição. Tarsila se casou com um primo de sua mãe, André Teixeira Pinto, com quem teve sua única filha, Dulce.
O 2º casamento foi por conveniência, com o escritor modernista Oswald de Andrade, que durou até o momento em que ele a traiu com a artista Pagu, Patrícia Galvão.
O 3º foi um casamento mais de aventura, com um amigo médico que a levou para conhecer a União Soviética (onde Tarsila vendeu vários quadros).
O 4º casamento foi com um rapaz 21 anos mais jovem do que ela, com quem Tarsila viveu 18 anos. Na verdade, Luíz Martins chegou a dizer que ela mais vivia fora do que dentro de casa com ele, com uma convivência de marido e mulher. Mas talvez tenha sido esse um dos ingredientes que favoreceram a união dos dois. Mas é certo que ele a amava e a admirava muito, sempre apoiando e contribuindo com suas decisões.
O mais interessante é como os dois se conheceram.
"O relacionamento entre Tarsila e o jovem jornalista Luís Martins começa num jantar em homenagem aos escritores Jorge Amado, Dante Costa e Peregrino Júnior "em fins de 1933 ou começo de 1934", segundo a autobiografia de Martins, Um Bom Sujeito, publicada em 1983.
     "Sentei-me ao lado de Tarsila. E dissipando minha timidez com o vinho, foi nessa noite que tudo começou."

 Luíz Martins, pintado por Tarsila.

 Tarsila do Amaral

sexta-feira, 21 de outubro de 2011

"À propósito da exposição Malfatti", artigo de Monteiro Lobato ao jornal O Estado de S. Paulo, em 1917


 "Há duas espécies de artistas. Uma composta dos que vêem normalmente as coisas e em conseqüência disso fazem arte pura, guardando os eternos rirmos da vida, e adotados para a concretização das emoções estéticas, os processos clássicos dos grandes mestres. Quem trilha por esta senda, se tem gênio, é Praxíteles na Grécia, é Rafael na Itália, é Rembrandt na Holanda, é Rubens na Flandres, é Reynolds na Inglaterra, é Leubach na Alemanha, é Iorn na Suécia, é Rodin na França, é Zuloaga na Espanha. Se tem apenas talento vai engrossar a plêiade de satélites que gravitam em torno daqueles sóis imorredouros. A outra espécie é formada pelos que vêem anormalmente a natureza, e interpretam-na à luz de teorias efêmeras, sob a sugestão estrábica de escolas rebeldes, surgidas cá e lá como furúnculos da cultura excessiva. São produtos de cansaço e do sadismo de todos os períodos de decadência: são frutos de fins de estação, bichados ao nascedouro. Estrelas cadentes, brilham um instante, as mais das vezes com a luz de escândalo, e somem-se logo nas trevas do esquecimento.


Embora eles se dêem como novos precursores duma arte a ir, nada é mais velho de que a arte anormal ou teratológica: nasceu com a paranóia e com a mistificação. De há muitos já que a estudam os psiquiatras em seus tratados, documentando-se nos inúmeros desenhos que ornam as paredes internas dos manicômios. A única diferença reside em que nos manicômios esta arte é sincera, produto ilógico de cérebros transtornados pelas mais estranhas psicoses; e fora deles, nas exposições públicas, zabumbadas pela imprensa e absorvidas por americanos malucos, não há sinceridade nenhuma, nem nenhuma lógica, sendo mistificação pura. Todas as artes são regidas por princípios imutáveis, leis fundamentais que não dependem do tempo nem da latitude. As medidas de proporção e equilíbrio, na forma ou na cor, decorrem de que chamamos sentir. Quando as sensações do mundo externo transformam-se em impressões cerebrais, nós "sentimos"; para que sintamos de maneiras diversas, cúbicas ou futuristas, é forçoso ou que a harmonia do universo sofra completa alteração, ou que o nosso cérebro esteja em "pane" por virtude de alguma grave lesão. Enquanto a percepção sensorial se fizer anormalmente no homem, através da porta comum dos cinco sentidos, um artista diante de um gato não poderá "sentir" senão um gato, e é falsa a "interpretação" que o bichano fizer um "totó", um escaravelho ou um amontoado de cubos transparentes. Estas considerações são provocadas pela exposição da Sra. Malfatti, onde se notam acentuadíssimas tendências para uma atitude estética forçada no sentido das extravagâncias de Picasso e companhia. Essa artista possui talento vigoroso, fora do comum. Poucas vezes, através de uma obra torcida para a má direção, se notam tantas e tão preciosas qualidades latentes. Percebe-se de qualquer daqueles quadrinhos como a sua autora é independente, como é original, como é inventiva, em que alto grau possui um semi-número de qualidades inatas e adquiridas das mais fecundas para construir uma sólida individualidade artística. Entretanto, seduzida pelas teorias do que ela chama arte moderna, penetrou nos domínios dum impressionismo discutibilíssimo, e põe todo o seu talento a serviço duma nova espécie de caricatura. Sejam sinceros: futurismo, cubismo, impressionismo e tutti quanti não passam de ouros tantos ramos da arte caricatural. É extensão da caricatura a regiões onde não havia até agora penetrado. Caricatura da cor, caricatura da forma - caricatura que não visa, como a primitiva, ressaltar uma idéia cômica, mas sim desnortear, aparvalhar o espectador. A fisionomia de que sai de uma destas exposições é das mais sugestivas. Nenhuma impressão de prazer, ou de beleza denuncia as caras; em todas, porém, se lê o desapontamento de quem está incerto, duvidoso de si próprio e dos outros, incapaz de racionar, e muito desconfiado de que o mistificam habilmente. Outros, certos críticos sobretudo, aproveitam a vaza para épater les bourgeois. Teorizam aquilo com grande dispêndio de palavrório técnico, descobrem nas telas intenções e subintenções inacessíveis ao vulgo, justificam-nas com a independência de interpretação do artista e concluem que o público é uma cavalgadura e eles, os entendidos, um pugilo genial de iniciados da Estética Oculta. No fundo, riem-se uns dos outros, o artista do crítico, o crítico do pintor e o público de ambos. Arte moderna, eis o estudo, a suprema justificação. Na poesia também surgem, às vezes, furúnculos desta ordem, provenientes da cegueira sempre a mesma: arte moderna. Como se não fossem moderníssimo esse Rodin que acaba de falecer deixando após si uma esteira luminosa de mármores divinos; esse André Zorn, maravilhoso "virtuose" do desenho e da pintura; esse Brangwyn, gênio rembrandtesco da babilônia industrial que é Londres; esse Paul Chabas, mimoso poeta das manhãs, das águas mansas, e dos corpos femininos em botão. Como se não fosse moderna, moderníssima, toda a legião atual de incomparáveis artistas do pincel, da
pena, da água-forte, da dry point que fazem da nossa época uma das mais fecundas em obras-prima de quantas deixaram marcos de luz na história da humanidade. Na exposição Malfatti figura ainda como justificativa da sua escola o trabalho de um mestre americano, o cubista Bolynson. É um carvão representando (sabe-se disso porque uma nota explicativa o diz) uma figura em movimento. Está ali entre os trabalhos da Sra. Malfatti em atitude de quem diz: eu sou o ideal, sou a obra-prima, julgue o público do resto tomando-me a mim como ponto de referência. Tenhamos coragem de não ser pedante: aqueles gatafunhos não são uma figura em movimento; foram, isto sim, um pedaço de carvão em movimento. O Sr. Bolynson tomou-o entre os dedos das mãos ou dos pés, fechou os olhos, e fê-lo passar na tela às pontas, da direita para a esquerda, de alto a baixo. E se não o fez assim, se perdeu uma hora da sua vida puxando riscos de um lado para o outro, revelou-se tolo e perdeu tempo, visto como o resultado foi absolutamente o mesmo. Já em Paris se fez uma curiosa experiência: ataram uma brocha na cauda de um burro e puseram-no traseiro voltado numa tela. Com os movimentos da cauda do animal a broxa ia borrando a tela. A coisa fantasmagórica resultante foi exposta como um supremo arrojo da escola cubista, e proclama pelos mistificadores como verdadeira obra-prima que só um ou outro raríssimo espírito de eleição poderia compreender. Resultado: o público afluiu, embasbacou, os iniciados rejubilaram e já havia pretendentes à tela quando o truque foi desmascarado. A pintura da Sra. Malfatti não é cubista, de modo que estas palavras não se lhe endereçam em linha reta; mas como agregou a sua exposição uma cubice, leva-nos a crer que tende para ela como para um ideal supremo. Que nos perdoe a talentosa artista, mas deixamos cá um dilema: ou é um gênio o Sr. Bolynson e ficam riscados desta classificação, como insignes cavalgaduras, a coorte inteira dos mestres imortais, de Leonardo a Steves, de Velásques a Sorolla, de Rembrandt a Whistler, ou... vice-versa. Porque é de todo impossível dar o nome da obra de arte a duas coisas diametralmente opostas como, por exemplo, a Manhã de Setembro, de Chabas, e o carvão cubista do Sr. Bolynson. Não fosse a profunda simpatia que nos inspira o formoso talento da
Sra. Malfatti, e não viríamos aqui com esta série de considerações desagradáveis.

Há de ter essa artista ouvido numerosos elogios à sua nova atitude estética. Há de irritar-lhe os ouvidos, como descortês impertinência, esta voz sincera que vem quebrar a harmonia de um coro de lisonjas. Entretanto, se refletir um bocado, verá que a lisonja mata e a sinceridade salva. O verdadeiro amigo de um artista não é aquele que o entontece de louvores, e sim o que lhe dá uma opinião sincera, embora dura, e lhe traduz chãmente, sem reservas, o que todos pensam dele por detrás. Os homens têm o vezo de não tomar a sério as mulheres. Essa é a razão de lhes derem sempre amabilidades quando elas pedem opinião. Tal cavalheirismo é falso, e sobre falso, nocivo. Quantos talentos de primeira água se não transviaram arrastados por maus caminhos pelo elogio incondicional e mentiroso? E tivéssemos na Sra. Malfatti apenas uma "moça que pinta", como há centenas por aí, sem denunciar centelhas de talento, calar-nos-íamos, ou talvez lhe déssemos meia dúzia desses adjetivos "bombons" que a crítica açucarada tem sempre à mão em se tratando de moças. Julgamo-la, porém, merecedora da alta homenagem que é tomar a sério o seu talento dando a respeito da sua arte uma opinião sinceríssima, e valiosa pelo fato de ser o reflexo da opinião do público sensato, dos críticos, dos amadores, dos artistas seus colegas e... dos seus apologistas. Dos seus apologistas sim, porque também eles pensam deste modo... por trás".



   

segunda-feira, 17 de outubro de 2011

"Passou a hora das coisas bonitas"

No artigo intitulado "Passou a hora das coisas bonitas", o crítico literário Alceu Amoroso Lima (com pseudônimo de Tristão Athayde), chamava a atenção para a necessidade de se fazer uma literatura mais engajada com os acontecimentos sociais. No período de publicação de seu texto, o Brasil vivia o turbilhão de revoltas, críticas e apoio à Revolução de 30 (também conhecida como fim da República Velha, fim da era café-com-leite).
Para aqueles que consideram a literatura a arte da distração, do lazer, Alceu Amoroso talvez fosse incompreendido. A meu ver, seu mérito não deve ser descartado, uma vez que sua proposta de aliar o texto literário à transfiguração da ideologia social me parece muito válida. Aliás, acho que a qualidade da boa prosa romanesca está muito envolvida com essa proposta de Amoroso, isto é, está relacionada com a capacidade que o autor tem de conseguir transpôr para sua produção literária, a ideologia do seu contexto social. Literatura é isso.
Se os escritores fossem apenas produzir textos para conduzir seus leitores a outros espaços, a outras realidades, a literatura não estaria condenada a um reducionismo limitado, pobre e despropositado? É claro que nos tranportar para outras situações e realidades diferentes da nossa são características das belas letras, mas não nos esqueçamos de que literatura não é só isso; não é apenas isso.
A boa literatura é aquela que, assim como considerou Alceu Amoroso, é capaz de aliar tanto o projeto estético quanto o ideológico, ou seja, há que se ter um trabalho cuidadoso com a linguagem, mas há que se considerar os acontecimentos a nossa volta. Porque escrever um texto, significa (entre outras coisas) expressar nossas próprias idéias, nosso modo de pensar diante do mundo e, sendo assim, nossa opinião expressada através da linguagem tem o poder de influenciar outras mentes, seja ao nosso favor, seja contra nós mesmos. Porque, afinal de contas, se a literatura não pode mudar o mundo, ela pode, com absoluta certeza, tornar os sujeitos conscientes. É através da literatura que eu me conscientizo do que sou, do papel que exerço no meio; que questiono outras formas de pensar, que crio e construo meus próprios argumentos com relação ao mundo.
"Passou a hora das coisas bonitas", e já é tempo de mais posicionamentos, de engajamentos, de atitudes. Assim como o fez a 2ª fase do Modernismo brasileiro, é tempo de falarmos das coisas, do mundo e das pessoas, não mais de uma forma só bonita, floreada; mas falar de maneira mais real, mais concreta. Porque assim, a literatura poderá aproximar seus leitores de si mesma, e convidá-los a se reconhecer no seu trabalho estético e ideológico com a linguagem.
                                                      Por Thaís Silva

"Se me quiserem amar, terá de ser agora: depois, estarei cansada..." Lya Luft

"Se me quiserem amar, terá de ser agora: depois, estarei cansada..." 

Depois poderei ser outra;

Depois poderei estar louca;

Poderei estar em outro lugar,

Poderei não mais te amar;

Poderei ter te esquecido;

Poderei não ter te ouvido.

Depois poderei viver,

e finalmente esquecer que demoraram para me amar..."

Enquanto houver gente ao meu lado, me ouvindo, me acompanhando, sempre haverá esperança de amor. Talvez, eu quisesse ser amada na hora, de imediato. Mas o amor é assim? Bem, não sei. Só sei que quero viver o que há de bom agora...

E é como diria Clarice Lispector: "Não se preocupe comigo. Eu sou muito feliz".

      Por Thaís Silva