quinta-feira, 30 de junho de 2011

sábado, 25 de junho de 2011

Tem café na minha gramática

Por Renato Dering

TEM CAFÉ NA MINHA GRAMÁTICA

Tem café na minha gramática
Sempre fui meio desastrado
Sem querer os fonemas se queimaram
e a sintaxe está amarga

Tem café em minha gramática
Coitado dos advérbios e verbos
a morfologia já não é a mesma
Isso prejudicaria minha semântica?

Tem café na minha gramática
ora leio substantivo, ora leio adjuntos
onde estão os complementos nominais?

Tem café em minha gramática e não é bobagem
Pulo às últimas páginas
E vou me perder nas figuras de linguagem.

Cantata de paz - Sophia de Mello Breyner

 

Vemos, ouvimos e lemos
Não podemos ignorar
Vemos, ouvimos e lemos
Não podemos ignorar
Vemos, ouvimos e lemos
Relatórios da fome
O caminho da injustiça
A linguagem do terror
A bomba de Hiroshima
Vergonha de nós todos
Reduziu a cinzas
A carne das crianças
D'África e Vietname
Sobe a lamentação
Dos povos destruídos
Dos povos destroçados
Nada pode apagar
O concerto dos gritos
O nosso tempo é
Pecado organizado.

sexta-feira, 24 de junho de 2011

"Sempre fomos o que os homens disseram que nós éramos.Agora somo nós que vamos dizer o que somos!"

Acho que essa frase dispensa qualquer comentário. Mas mesmo assim, acho muito pertinente dizer que isso é a mais pura verdade.
Se durante muito tempo não tivemos voz, está mais do que na hora de mostrarmos ao mundo o quanto somos capazes de pensar, o quanto possuímos idéias de valor, e o quanto somos importantes para essa sociedade.
Mas ainda que tenha poucos para nos apoiar, vamos contruir nossa história através de nossos textos, nossa música, nossa arte, nossos ensaios, nossas pesquisinhas acadêmicas... E não seremos mais uma, mas muitas vozes, que dirão quem realmente somos! Por que afinal, como diria Beauvoir, "não se nasce mulher, torna-se mulher"!

sábado, 11 de junho de 2011

"Para escrever, o aprendizado é a própria vida"!

Se alguém vivenciou (literalmente) a leitura de A Cor Púrpura, então sabe do que estou falando.
Ser mulher, por si só, já  significa desafios. Ser mulher e negra, é praticamente viver numa corda bamba...
Mas quando tudo parecia perdido, quando nada mais parecia valer a pena para a vida de Celie, eis que surge um pingo de esperança. A pobre moça que vivia sob as piores condições de opressão, violência, desrespeito e dominação, vê na amante do próprio marido, uma possibilidade de redenção.
Através de Shug Avery, Celie descobre que tem força, que pode lutar pela vida, que é uma mulher incrível e que não precisa apanhar e sofrer, porque não veio ao mundo para isso.
E depois de apreciar uma narrativa com tantos ensinamentos, é que a gente se pergunta de onde surgiu a noção (a equívoca e desumana noção) de que o ser humano só tem sentido se for dono de alguém, se depositar no outro o sentimento de propriedade. Se fizer do outro, aquilo que quer para si mesmo...
Por essa e outras razões é que "A cor púrpura" é, definitivamente, uma leitura redentora. Pois nos convida ao ritual de receptividade da obra, e nos possibilita mergulhar numa síntese de valores e sensibilidade, abarcando aquilo que nos é desconcertante e transformando-o na máxima possibilidade de transcedência. Porque afinal, "para escrever, o aprendizado é a própria vida!".

Literaturas, leituras, Letrinhas....

O que significa ler Madame Bovary nos tempos  atuais?
Significa identificar-se com aquilo que é lido (ou, em outras palavras, ser lido por aquilo que se lê!); significa ter um espaço para os clássicos na nossa vida, num período em que os "contemporâneos" nos chegam a todo momento. Significa querer mergulhar numa leitura em que o contexto era marcado pela submissão feminina. Significa querer abrir  os olhos para novas possibilidades de enxergar e se adequar a realidade. Significa terapia, mas tb desconforto. Significa prazer, mas também desilusão.
Significa tanta coisa, mas também muito pouco. Tudo é relativo. Só depende dos olhos de quem lê...

segunda-feira, 6 de junho de 2011

Tarsila do Amaral - uma artista consolidamente nacional

Embora tenha demostrado uma relação estreita com a cultura e as artes européias, Tarsila do Amaral incorporou em suas obras uma temática essencialmente brasileira. Esse espírito de nacionalismo é visivemente percebido na escolha das cores e dos temas (como a negra, os operários, as folhas de bananeira ao fundo, entre outros elementos).
Além disso, associado à nacionalidade representada em suas obras, há também fatores modernos em sua maneira de "ler" a realidade. Um dos grandes exemplos, é a tela "Abapuru".
O que estaria por trás de uma figura tão desengonçada, desproporcional, com uma cabecinha presa a um corpo enorme?!Seria um realismo artístico atrelado as mazelas sociais?
Bem, o fato é que o "Abaporu" (homem que come carne humana, em tupi) causou forte impacto no meio artístico e cultural do país.Até Oswald se impressionou.E a reação foi tanta, que a tela se tornou o símbolo do movimento Antropofágico, no qual a artista "deglutiu", literalmente, as referências culturais do exterior, e decidiu aproveitar o ambiente brasileiro, rico em diversidades, para as suas produções.
Tarsila foi ousada? Com toda certeza.E não só ousou, como mostrou-se também irreverente, crítica e decidida, ao transpor suas concepções e ideologias para suas obras de arte.
Sorte nossa termos uma brasileira, talentosa e ainda, uma grande mulher, para consolidar e significar a história das nossas artes e da nossa cultura.
"[...] Segui o ramerrão do gosto apurado, mas depois vinguei-me da opressão passando-as para minhas telas: azul puríssimo, rosa violáceo, amarelo vivo, verde cantante, tudo em gradações mais ou menos fortes conforme a mistura de branco. Pintura limpa, sobretudo, sem medo de cânones convencionais”. – Tarsila do Amaral

domingo, 5 de junho de 2011

Mais Frida...

''Algum tempo atrás, talvez uns dias, eu era uma moça caminhando por um mundo de cores, com formas claras e tangíveis. Tudo era misterioso e havia algo oculto; adivinhar-lhe a natureza era um jogo para mim. Se você soubesse como é terrível obter o conhecimento de repente - como um relâmpago iluminado a Terra! Agora, vivo num planeta dolorido, transparente como gelo. É como se houvesse aprendido tudo de uma vez, numa questão de segundos. Minhas amigas e colegas tornaram-se mulheres lentamente. Eu envelheci em instantes e agora tudo está embotado e plano. Sei que não há nada escondido; se houvesse, eu veria.''
Frida Kahlo

sábado, 4 de junho de 2011

Mulheres na arte

Foram tantas as mulheres que marcaram e consagraram a arte e a cultura, que fica até difícil pensar em um único nome. Foram figuras femininas que fizeram história, demarcando seu território artístico através de uma nova forma de olhar e perceber o mundo.
Frida Kahlo, com sua irreverência e ousadia, transportou para as telas dores e sentimentos de tristeza de um universo que não se restringia somente ao seu, mas o de tantas outras mulheres que, como ela, viveram inquietações e desajustes sentimentais, com relação ao que se amava e a quem se amava.
Seria muito exigir um amor fiel e leal, um amor recíproco, desses que a gente confia sem ter medo, sem se preocupar com exessos, com ousadia?
Mas por outro lado, se não fossem as frustrações amorosas e tantos desgostos sentimentais, talvez o mundo (e as artes em geral) não tivesse sido contemplado com telas tão verdadeiras, que representavam dores através de um olhar feminino tão puro e tão sentimental.
''Algum tempo atrás, talvez uns dias, eu era uma moça caminhando por um mundo de cores, com formas claras e tangíveis. Tudo era misterioso e havia algo oculto; adivinhar-lhe a natureza era um jogo para mim. Se você soubesse como é terrível obter o conhecimento de repente - como um relâmpago iluminado a Terra! Agora, vivo num planeta dolorido, transparente como gelo. É como se houvesse aprendido tudo de uma vez, numa questão de segundos. Minhas amigas e colegas tornaram-se mulheres lentamente. Eu envelheci em instantes e agora tudo está embotado e plano. Sei que não há nada escondido; se houvesse, eu veria.''
        Frida Kahlo