Para mim, Manoel de Barros é, talvez, um dos maiores modernistas que já vi. Embora sua "arte" tenha muito mais de estético do que de ideológico, sinto que seus textos têm um quê de amor, um quê de compaixão pela palavra, pela literatura que é, ao mesmo tempo envolvente e impossível de não se apaixonar...
Assim como ele, também sinto muito afeto por aquilo que os outros não ligam, ou não dão a devida importância. Os romances ditos "menores", ou "muito intimistas", ou sem tanto trabalho com a palavra, é desses que me importo. Pois como Manoel de Barros, "não gosto das palavras fatigadas de informar.
Dou mais respeito às que vivem de barriga no chão.
[...]
Dou respeito às coisas desimportantes
e aos seres desimportantes.
[...]
Tenho em mim esse atraso de nascença.
[...]
Tenho abundância de ser feliz por isso.
Meu quintal é maior do que o mundo.
Sou um apanhador de desperdícios:
Amo os restos
como as boas moscas [...]" (BARROS, 2003, p. IX).
E quando digo que compartilho com Manoel esse amor, essa devoção às coisas "não amadas" pelos outros, não quero com isso dizer que sou advogada das obras pobres e oprimidas; ao contrário, quero dizer que valorizo aquela beleza, aquela significância de certos romances que, por algum motivo, nem todos vêem... E como o escritor mesmo diz: " A gente descobre que o tamanho das coisas há que ser medido pela intimidade que temos com as coisas. Há de ser como acontece com o amor. Assim, as pedrinhas do nosso quintal são sempre maiores do que as outras pedras do mundo. Justo pelo motivo da intimidade".
Os livros nos quais eu compartilho um grande nível de intimidade, são para mim, muito grandes. Porque eu descobri o tamanho deles pela devoção e profundidade que eles dividiram comigo...
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