Lendo a coluna: "Um novo realismo" de hoje, Na Folha de SP, o poeta Ferreira Gullar nos dá algumas de suas impressões sobre o faser artístico. Isso tudo me encanta, porque desde que ouvi Adélia Prado dizer que a arte nasce de nossas experiências mais dolorosas, mais selvagens e brutais para, em seguida, transformar-se na máxima potencialidade de emanência, passo a coletar todos os fragmentos ditos por gente grande sobre aquilo que o ser humano, em sua essência, não conseguiria viver sem: a arte.
Então compartilho com vocês algumas palavrinas de Gullar sobre o fazer artístico.
"Quem, como eu, admite que a vida é inventada e que a arte é um dos instrumentos dessa invenção terá do fenômeno artístico, obrigatoriamente, uma visão especial.
Não é só através da arte que o homem se inventa e inventa o mundo em que vive: a ciência, a filosofia, a religião também participam dessa invenção [...].
[...] Não importa se esta ou aquela pessoa nunca viu a Capela Sistina, porque, no dia em que a vir, se renderá à sua beleza. É que somos seres culturais e não apenas porque nos apoiamos em valores éticos, estéticos (...), filosóficos, científicos- mas porque eles são constitutivos dessa galáxia inventada que é o mundo humano.
[...] Todo artista sabe que a arte não nasceu com ele e que um dos sentidos essenciais de sua obra é incorporar-se a essa galáxia cultural que costitui a nossa própria essência. Não entenda isso como uma proposta de conformismo, que seria contrária à minha própria tese de que o homem se inventa e inventa o seu mundo, já que seria impossível inventá-lo se apenas repetissem o que já existe. Por isso mesmo, é perfeitamente natural que alguns artistas de hoje busquem expressar-se sem se valer das linguagens artísticas e, sim, antes, repelindo-as, para inventar um modo jamais utilizado por artistas do passado. [...] Entre esses há os que simplesmente negam a arte e outros que pretendem criar arte valendo-se de elementos antiartísticos ou não artísticos.
[...] O que todos nós queremos é a maravilha, venha de onde vier, surja de onde surgir [...]".
Ferreira Gullar. In: Um Novo Realismo. Ilustrada, Folha de SP, 2011.
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