Lendo a coluna: "Um novo realismo" de hoje, Na Folha de SP, o poeta Ferreira Gullar nos dá algumas de suas impressões sobre o faser artístico. Isso tudo me encanta, porque desde que ouvi Adélia Prado dizer que a arte nasce de nossas experiências mais dolorosas, mais selvagens e brutais para, em seguida, transformar-se na máxima potencialidade de emanência, passo a coletar todos os fragmentos ditos por gente grande sobre aquilo que o ser humano, em sua essência, não conseguiria viver sem: a arte.
Então compartilho com vocês algumas palavrinas de Gullar sobre o fazer artístico.
"Quem, como eu, admite que a vida é inventada e que a arte é um dos instrumentos dessa invenção terá do fenômeno artístico, obrigatoriamente, uma visão especial.
Não é só através da arte que o homem se inventa e inventa o mundo em que vive: a ciência, a filosofia, a religião também participam dessa invenção [...].
[...] Não importa se esta ou aquela pessoa nunca viu a Capela Sistina, porque, no dia em que a vir, se renderá à sua beleza. É que somos seres culturais e não apenas porque nos apoiamos em valores éticos, estéticos (...), filosóficos, científicos- mas porque eles são constitutivos dessa galáxia inventada que é o mundo humano.
[...] Todo artista sabe que a arte não nasceu com ele e que um dos sentidos essenciais de sua obra é incorporar-se a essa galáxia cultural que costitui a nossa própria essência. Não entenda isso como uma proposta de conformismo, que seria contrária à minha própria tese de que o homem se inventa e inventa o seu mundo, já que seria impossível inventá-lo se apenas repetissem o que já existe. Por isso mesmo, é perfeitamente natural que alguns artistas de hoje busquem expressar-se sem se valer das linguagens artísticas e, sim, antes, repelindo-as, para inventar um modo jamais utilizado por artistas do passado. [...] Entre esses há os que simplesmente negam a arte e outros que pretendem criar arte valendo-se de elementos antiartísticos ou não artísticos.
[...] O que todos nós queremos é a maravilha, venha de onde vier, surja de onde surgir [...]".
Ferreira Gullar. In: Um Novo Realismo. Ilustrada, Folha de SP, 2011.
"O prazer de não fazer nada", é um convite aos amantes de Literatura para apreciar poesia, ensaios, fotografias, artes e muito mais.Para os bons boêmios literários, este é o lugar.Sintam-se à vontade. O espaço aqui é de tutti!
domingo, 27 de novembro de 2011
sábado, 26 de novembro de 2011
Sobre o último livro que li: "Jogo de damas", de David Coimbra
David Coimbra (2011), num texto divertido e muito bem humorado, conta a história de grandes mulheres que, através de suas inteligências, conquistaram não somente grandes homens, mas também dominaram grandes impérios.
Em seu novíssimo livro, “Jogo de Damas”, o autor constrói, talvez, o melhor texto que já li sobre uma definição do que é ser mulher. E nesse caso, vale para qualquer período, da pré-história até a contemporaneidade.
Compartilho um trecho com vocês!
“Camile Paglia disse que não existe um Mozart mulher pelo mesmo motivo que não existe um Jack, o Estripador, mulher. Certo. Um Jack, o Estripador, e um Mozart, um gênio e um serial killer, são moldados com o mesmo barro: a selvageria ancestral do homem.
Todos os grandes gênios da humanidade, Sócrates, Confúcio, Einstein, Leonardo da Vinci, Jesus Cristo, Freud, todos se alimentavam da mesma barbárie de um Hitler, um conde Vlado, o Empalador, um Tamerlão. Porque a grande arte só se faz com dor. Só um homem inadaptado concebe uma criação imortal. Nas curvas que o cinzel de Michelangelo esculpiu no mármore do seu Moisés estão a sua revolta, a sua inconformidade com a Civilização. (...) Se você prestar atenção naquela obra que Michelangelo levou 4 anos para concluir, (...) irá ver que existe sublimação em cada traço. Que aquilo só se faz com dor, fúria, com selvageria.
A grande arte, produto mais refinado da Civilização, é, na verdade, uma reação à Civilização. É o nosso instinto brutal, resquício das épocas primevas do Neanderthal, que nos faz grandes e cruéis.
A mulher? A mulher não precisa de nada disso. A mulher é a própria Civilização. A mulher caminha pelo mundo com os pés no chão, eqüidistante do ridículo e da façanha. A mulher olha criticamente para o homem que se jacta e sonha com a glória, e sorri com condescência. Porque a mulher, por natureza, percebe o que é realmente importante na vida: apenas a própria vida”.
Por Thaís Silva
Continua no próximo post!!
quinta-feira, 17 de novembro de 2011
Lilith, a mulher fatal
Afinal, quem foi Litith, a figura enigmática e misteriosa do mito religioso, que transforma a figura feminina num monstro de perdição, capaz de mudar os pensamentos do homem e moldá-lo de acordo com suas vontades?
Seria ela, essa monstruosa mulher que convenceu Eva a comer o fruto do conhecimento? Ou teria apenas sido a amante incontrolável de Caim, que deu-lhe um filho e fundou uma cidade com o nome de seu primogênito?
O que teria feito Lilith, para ficar caracterizada como a mulher desvirtuosa? Por que será que os homens com quem ela se envolveu não reagiram aos seus encantos?
Sei que todas essas perguntas parecem muito pós-modernas, mas acho interessante que se faça uma desconstrução da figura emblemática dessa mulher que, ao ser analisada via pinturas, gravuras e esculturas, revela uma imagem de feições delicadas e de uma beleza indescritível.
Então aqui vai minha pergunta: Teria sido Lilith tão perversa assim? Ou será que Caim, por não ter tido força suficiente para rejeitá-la, acabou "caindo em tentação" e, para justificar tal ato, relegou a figura de Lilith a causa da perdição?
Essas justificativas dadas pela tradição religiosa não me satisfazem. Creio que se o homem foi criado a imagem e semelhança de Deus, deveria ter herdado do criador a substância primordial e eficaz da inteligência. Quando Eva foi tentada pela serpente (ou Lilith, como diz o mito), por que não reagiu? Por que não recusou a maçã, já que havia sido alertada sobre a proibição daquele fruto?
A meu ver, a grande pecadora desse história, não deveria ser Lilith. Enquanto serpente (se é que ela pode ser considerada assim), ela fez o que o mal sempre faz: usa de todos os subterfúgios para arrastar as almas a perdição, ao pecado. Não era isso o que ela tinha que fazer? Pois foi isso o que ela fez. O erro foi de Eva, por ter se deixado enganar...
Quanto a Caim, convenhamos. Se Lilith representou a perdição daquele homem, o que ele representou por si só? Antes mesmo de Lilith aparecer na história, Caim já estava condenado há muito tempo. Depois que a amante entra na vida dele, ninguém mais se lembra de que ele havia assassinado seu próprio irmão? Ou seja, se deixar perder nos braços da amada insaciável e demoníaca é representado como o auge dos pecados, ao passo que matar o próprio irmão fica sendo apenas uma página da história daquele condenado...
Pois bem. Deixo aqui a minha contestação. Que não fique apenas nos ombros da pobre Lilith toda a culpa dos pecados; enquanto figura sedutora, ela não fez nada mais do que o seu papel. Ademais, uma mulher de beleza tão estonteante como aquela, seria difícil resistir aos seus encantos e aliás, sua presença serviu para completar ainda mais o mito da criação.
Por que embora temida, conseguia seduzir o homem? A suposta "magia" de Lilith pode ser vista na própria fala de Caim: "Eu estava só na Escuridão e eu tive fome. Eu estava só na Escuridão. E eu tive frio. Eu estava só na Escuridão e eu chorei. Então veio até mim uma doce voz, uma voz de mel. Palavras de auxílio. Palavras de conforto. Uma mulher, sombria e adorável, com olhos que perfuravam a escuridão, veio a mim".
E ao contrário do que reza a tradição, Lilith através da versão de Caim, não parece ter sido tão má e ter feito mal ao pobre rapaz. Ao contrário, tem-se até a impressão de que ela foi o elemento que faltava para completá-lo.
"Ela me alojou, ela me alimentou. Ela me vestiu. Nos braços dela, eu achei conforto. Eu chorei até sangue gotejou de meus olhos e ela os beijou. E eu morei durante um tempo na Casa de Lilith e lhe perguntei: "Fora da Escuridão, como você construiu este lugar? Como você fez roupas? Como você cultivou comida?" E Lilith sorriu e disse, ao contrário de você, eu estou "Acordada". Eu vejo as Linhas que giram ao redor de você. Eu faço o que eu preciso com Poder. "Desperte-me, então, Lilith" - eu disse.
Diante disso, deixo aberta a questão. Se Lilith se tornou uma figura emblemática, como é representada, ao seu favor temos o próprio acolhimento de Caim e a união com aquele que já estava perdido por natureza (nem precisa lembrar o que ele já havia feito, né?). Perdidos por perdidos, os dois até que formavam um belo casal.Ah, e mais uma coisa. As Liliths retratadas em pinturas renascentistas, neo-clássicas e até modernas que enocntrei, representam uma mulher traços delicados e frágeis. Seria uma forma de sugerir a magia sedutora por trás de sua delicadeza ou uma maneira de questionar seu estereótipo demoníaco? Não sei, mas prefiro ficar com a segunda opção...
Por Thaís Silva. domingo, 13 de novembro de 2011
Eduardo e Mônica
Lembra daquela música do Renato Russa, Eduardo e Mônica? Pois é. Acho que não tem nenhuma canção mais realista, no quesito amoroso, do que aquela.
A relação à dois deve ser daquele jeito mesmo. No começo, só aparecem as diferenças, aliás, os dois são bem diferentes mesmo, com os gostos, com os estilos, com as opiniões. Mas o que os une é o projeto de vida que eles têm em comum. Ambos sonham com o mesmo foco e é nesse ponto que eles combinam.
Eduardo e Mônica acaba se transformando numa simbologia de todos os Eduardos e as Mônicas que existem por aí. Alguns Eduardos procurando suas Mônicas, e algumas Mônicas que ainda não encontraram seus Eduardos...
Então, que viva os acasos, os encontros às escuras, as pessoas que se permitem. Que viva o Eduardo e a Mônica!!
Eduardo com preguiça de acordar enquanto Mônica já ralava antes do dia começar...
E os dois viveram juntos, e bem juntos e um belo dia uma casa só deles tiveram...
E quando menos esperavam, a chegada dos gêmeos completaram o que eles sempre quiseram!!!
Eduardooo e Mônicaaa... tralál la lá lá lá....
por Thaís Silva
A relação à dois deve ser daquele jeito mesmo. No começo, só aparecem as diferenças, aliás, os dois são bem diferentes mesmo, com os gostos, com os estilos, com as opiniões. Mas o que os une é o projeto de vida que eles têm em comum. Ambos sonham com o mesmo foco e é nesse ponto que eles combinam.
Eduardo e Mônica acaba se transformando numa simbologia de todos os Eduardos e as Mônicas que existem por aí. Alguns Eduardos procurando suas Mônicas, e algumas Mônicas que ainda não encontraram seus Eduardos...
Então, que viva os acasos, os encontros às escuras, as pessoas que se permitem. Que viva o Eduardo e a Mônica!!
Eduardo com preguiça de acordar enquanto Mônica já ralava antes do dia começar...
E os dois viveram juntos, e bem juntos e um belo dia uma casa só deles tiveram...
E quando menos esperavam, a chegada dos gêmeos completaram o que eles sempre quiseram!!!
Eduardooo e Mônicaaa... tralál la lá lá lá....
por Thaís Silva
sexta-feira, 11 de novembro de 2011
Para meu amigo Dering!
Se tem uma pessoa que me faz refletir sobre o ato de escrever, esse alguém é o Renato. É claro que muito já foi dito a respeito do processo de criação do texto literário; não se pode ler uma obra pensando apenas como um reflexo do próprio autor, porque se assim o fosse, o que seria a literatura se não um simples recontar de próprias experiências, um mero espelho que refletiria apenas as próprias memórias? Não, definitivamente, literatura é muito mais do que isso.
Por outro lado, não deixo de perceber que, muito do que escrevo diz sobre o que sou, o que leio, o que ouço, o que gosto e, enfim, revela a matéria de que sou constituída. Sendo assim, quando leio uma obra e me reconheço nela, é porque, de alguma forma, aquilo que leio está me lendo também.
Assim, quando me pego em meio as discussões: "Ah não, Renato, esse seu poema tá muito melancólico! Vc anda muito deprê, heim?!" rsrs. E ele me responde: "Não sou eu que ando triste, é meu eu-lírico...", só me resta deixar o seguinte recadinho (usando as palavras de gente grande, é claro!):
"Como nos adverte Jorge Luiz Borges - toda literatura é, finalmente, autobiográfica"- (BORGES apud NEVES, 2004, p. 12).
E Margarida de Souza Neves (2004) acrescenta: "[...] Prenhe de seu autor, o texto nos leva, a cada passo, ao encontro da figura humana de [Renato], de suas idiossincrasias, do estilo do escritor, dos temas que lhe são caros, de seus interlocutores intelectuais, de sua peculiar forma de ler o mundo".
Pois é, Renato, é isso o que digo para você!
Por outro lado, não deixo de perceber que, muito do que escrevo diz sobre o que sou, o que leio, o que ouço, o que gosto e, enfim, revela a matéria de que sou constituída. Sendo assim, quando leio uma obra e me reconheço nela, é porque, de alguma forma, aquilo que leio está me lendo também.
Assim, quando me pego em meio as discussões: "Ah não, Renato, esse seu poema tá muito melancólico! Vc anda muito deprê, heim?!" rsrs. E ele me responde: "Não sou eu que ando triste, é meu eu-lírico...", só me resta deixar o seguinte recadinho (usando as palavras de gente grande, é claro!):
"Como nos adverte Jorge Luiz Borges - toda literatura é, finalmente, autobiográfica"- (BORGES apud NEVES, 2004, p. 12).
E Margarida de Souza Neves (2004) acrescenta: "[...] Prenhe de seu autor, o texto nos leva, a cada passo, ao encontro da figura humana de [Renato], de suas idiossincrasias, do estilo do escritor, dos temas que lhe são caros, de seus interlocutores intelectuais, de sua peculiar forma de ler o mundo".
Pois é, Renato, é isso o que digo para você!
quinta-feira, 10 de novembro de 2011
A era "pós" dos lusitanos....
Outro dia, estava fazendo um trabalho do mestrado e iniciei algumas leituras sobre Portugal.
É incrível e, ao mesmo tempo, inacreditável pensar que depois de séculos de domínio sobre outros países, de descobertas marítimas, os portugueses enfrentam enfim, aquilo que se poderia chamar de "a era down".
Fiquei me perguntando se Camões ainda fosse vivo, e visse a atual situação de Portugal - não somente com relação ao próprio esquecimento dos grandes feitos heróicos, que outrora havia sido tão proclamado, mas também a própria indiferença do continente europeu com relação a esse país - , se ele visse tudo isso, o que ele iria escrever.
Hoje, Portugal é revisitado em José Saramago, quando esse escritor relembra a era gloriosa dos lusitanos e levanta a questão: de que serviu tantas descobertas se hoje, a nação não se encontra na própria Europa? Se hoje a nação não conseguiu ainda consolidar uma identidade verdadeiramente nacional?!
Se Camões visse isso, com certeza arregalaria os dois olhos (ops, um só) de tanto espanto e comoção.
É, muita coisa ainda tem que ser repensada sobre os lusitanos, mas que isso também nos sirva de lição; se os portugueses se sentem meio alheios ao próprio continente, e nós, brasileiros, que nunca nos propusemos na frente de outros países, que nunca descobrimos outras terras? E nós?!!
continua no próximo capítulo...
É incrível e, ao mesmo tempo, inacreditável pensar que depois de séculos de domínio sobre outros países, de descobertas marítimas, os portugueses enfrentam enfim, aquilo que se poderia chamar de "a era down".
Fiquei me perguntando se Camões ainda fosse vivo, e visse a atual situação de Portugal - não somente com relação ao próprio esquecimento dos grandes feitos heróicos, que outrora havia sido tão proclamado, mas também a própria indiferença do continente europeu com relação a esse país - , se ele visse tudo isso, o que ele iria escrever.
Hoje, Portugal é revisitado em José Saramago, quando esse escritor relembra a era gloriosa dos lusitanos e levanta a questão: de que serviu tantas descobertas se hoje, a nação não se encontra na própria Europa? Se hoje a nação não conseguiu ainda consolidar uma identidade verdadeiramente nacional?!
Se Camões visse isso, com certeza arregalaria os dois olhos (ops, um só) de tanto espanto e comoção.
É, muita coisa ainda tem que ser repensada sobre os lusitanos, mas que isso também nos sirva de lição; se os portugueses se sentem meio alheios ao próprio continente, e nós, brasileiros, que nunca nos propusemos na frente de outros países, que nunca descobrimos outras terras? E nós?!!
continua no próximo capítulo...
quarta-feira, 2 de novembro de 2011
As capis (capivaras da UFV)
Haikai para elas (as capis)
No gramado da Universidade
A capivara come risonha
Dia feliz.
No gramado da Universidade
A capivara come risonha
Dia feliz.
Saber é pouco
Como é que a água do mar
Entra dentro do coco?
Um salto de sapo
Jamais abolirá
O velho poço
Quando penso
Em partir em viagem,
O fim da primavera.
Amar é um elo
Entre o azul
E o amarelo
Duas folhas na sandália
O outono
Também quer andar
Hoje à noite
Até as estrelas
Cheiram a flor de laranjeira
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