quarta-feira, 7 de setembro de 2011

O que é que Florbela Espanca tem?

Dentre os traços mais marcantes que singularizam a poetisa Florbela Espanca, estão, sem dúvida alguma, a irreverência e a ousadia; aspectos que acompanharam sua breve trajetória de vida e fizeram de sua obra um marco consagrado na história da literatura portuguesa.

De acordo com Maria Lúcia Dal Farra (1996), Florbela fornecia a imagem de “[...] mulher escritora, rebelde e irreverente, avessa à publicidade, à glória, aos críticos e jornalistas, sem editor e sem dinheiro para dar a lume seus livros; orgulhosíssima, a ponto de jamais mendigar favores, o que “tem sido a minha suprema defesa”, “o meu amparo e a minha força”, p. XVIII.

O que teria acontecido na vida de uma mulher tão corajosa para desistir de viver? Aonde foi parar, afinal, tanta ousadia, tanta força? Teria sido as decepções amorosas, ou o cansaço por ter lutado tanto por seus sonhos e, no final, sentir-se tão só, tão desamparada? Teria se sentido feliz se soubesse que após sua partida, obteve do público leitor, da crítica e de toda uma sociedade, um respeito e adoração jamais previstos?

“Vive só e retirada, não porque seja incompreendida, mas porque é alguém “que não compreende nada”, deixando-se rodear tão só pelos livros, flores e cão, uma vez que por vontade própria se acha enclausurada na “cela de Sóror Saudade”, p.XIX.

Será preciso que a sensação de compreensão nos rodeie sempre, para que possamos nos sentir significantes no mundo? Será que é preciso compreender tudo, sempre?
Talvez, Florbela gostasse de conhecer Clarice Lispector, e se sentisse bem ao ouvir da brasileira: “Não se perde por não entender. Viver ultrapassa qualquer  entendimento”.

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