Se, de alguma maneira, pode-se dizer que aprendemos com os livros que lemos, com as histórias que nos conduzem para universos que nos são alheios, então, podemos também considerar que a frase de Maria Luíza de Queiroz tem, de fato, total significado: “A ficção tem mais peso do que a modesta realidade”.
Quando leio Erico Veríssimo, por exemplo, sinto-me como parte de uma realidade tão distante e, ao mesmo tempo, tão próxima de mim, que acabo me reconhecendo um pouco em Clarissa e em Ana Terra. Sou Clarissa no meu lado doce, humano, simples; e sou também Ana, no meu lado forte, corajoso e decidido.
Então, será mesmo que a Literatura tem poder sobre nós? Ela é, de fato, capaz de nos emancipar? Acho que é possível.
À mim, pelo menos, ela é emancipadora. E não adianta dizer que isso é absurdo ou ilusão; para mim, a ficção é uma fonte de preenchimento. Fonte inesgotável, eu diria, porque além de me ajudar a compreender uma série de coisas sobre a vida, sobre a realidade que me cerca, sobre o mundo (e sobre o meu mundo), ela ainda me desperta para outras possibilidades de entendimento, ela me conduz à outros pontos de vista, ela me dignifica, ela me reitera, ela me preenche, ela me completa. Ela me diz não o que eu quero, mas o que eu preciso saber. Ela me tira do conforto, mas também me acolhe. Ela me emociona, mas também me causa estranhamento...
E, quanto a brilhante frase de Maria Luíza, eu acrescentaria: a ficção tem mais peso do que a modesta realidade, não pelo fato de que a vida é simples demais, é crua demais na sua completa nudez, mas porque a ficção (e somente ela) tem o surpreendente poder de nos possibilitar. Seja o que quer que você queira que essa última palavra signifique.
Por Thaís Silva